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07 Fevereiro 2024

"A forma mais eficaz de reduzir a incidência da periimplantite passa pela responsabilização do doente e do médico dentista"






Cristina Trigo Cabral exerce a sua prática clínica, nas áreas de periodontologia e cirurgia oral, na Casa de Saúde da Boavista (Porto).Cristina Trigo Cabral exerce a sua prática clínica, nas áreas de periodontologia e cirurgia oral, na Casa de Saúde da Boavista (Porto).

Tendo em vista a crescente “expansão” das doenças do foro gengival, “parece-me que, no futuro, todos os profissionais de saúde oral vão ter um papel muito ativo na prevenção e na aposta de evitar o aparecimento da doença periodontal na generalidade da população”. Quem o antevê é a médica dentista Cristina Trigo Cabral, que tem a seu cargo - desde março de 2023 - a presidência da Sociedade Portuguesa de Periodontologia e Implantes (SPPI). Em entrevista à Maxillaris, a também coordenadora da Pós-Graduação em Periodontologia e Periimplantologia Clínica no Instituto Universitário de Ciências da Saúde (CESPU) analisa a atual conjuntura da periodontologia e revela as prioridades que traçou para o mandato à frente da SPPI.

Na sua opinião, quais são os principais “trunfos” (ou ferramentas) para detetar atempadamente, controlar e/ou tratar a doença periodontal? A forma mais eficaz de prevenir esta doença é o paciente estar motivado, de modo a ser capaz de eliminar de forma eficaz diariamente a placa bacteriana, através da escovagem dos dentes e da utilização do fio dentário ou escovilhão nos espaços interdentários. Os profissionais de saúde oral têm de explicar e ensinar o paciente a realizar este procedimento de 12 em 12 horas.

Por outro lado, deve haver campanhas de Saúde Pública para alertar a população em que o primeiro sintoma da doença que surge é o sangramento gengival. Habitualmente, o doente não valoriza o sangrar à escovagem. Nessa fase, a doença é reversível. Só afeta mesmo a gengiva, que sangra porque está num processo inflamatório. Neste momento é muito importante a ação dos médicos dentistas, pois podem prevenir a evolução da doença para a periodontite, que é mais grave e em que os dentes começam a mover-se, há perda dos tecidos periodontais, do osso e do ligamento que suporta o dente e, mais tarde, vai levar à perda do dente.

É também importante ir às consultas de controlo duas vezes por ano, ao seu médico dentista habitual.

Qual é o atual panorama da periimplantite em termos de tratamento clínico e investigação? Vê motivos para pensarmos, a curto ou médio prazo, numa taxa de sucesso mais elevada neste campo?

A chave para o tratamento da periimplantite é a sua prevenção, ou seja, é a mesma que para prevenir a gengivite e a periodontite: uma boa higiene oral pelo paciente em sua casa. Se o doente notar algum sinal de inflamação ao redor dos seus implantes, deve recorrer de imediato ao seu médico dentista, e marcar uma consulta para nós atuarmos de imediato. A prevenção da periimplantite será a chave para uma taxa de sucesso mais elevada.

Do seu ponto de vista, qual é a melhor forma de reduzir a incidência desta patologia inflamatória no futuro? 

A periimplantite é uma patologia inflamatória e infeciosa que afeta aproximadamente 12% a 43% dos implantes colocados, ao fim de 10 anos. Esta patologia afeta os tecidos moles e duros que rodeiam o implante em função. Mas temos sempre que pensar que a infeção microbiana é etiologicamente o principal agente.

Quanto mais cedo a mucosite periimplantar e/ou a periimplantite forem detetadas, maiores serão as probabilidades de sucesso do tratamento.

No meu entender, no futuro, a forma mais eficaz de reduzir a incidência da periimplantite passa pela responsabilização do doente e do médico dentista.

Se por um lado o doente deve ter a obrigatoriedade de cumprir com as técnicas de higiene oral e com o calendário de visitas ao médico dentista, preconizado previamente, por outro lado o médico dentista deverá selecionar o paciente a colocar implantes, terá de eliminar os diversos fatores de risco desta patologia, antes da sua colocação.

Por exemplo o tabaco e a história de periodontite são fatores de risco muito importantes, podendo ser responsáveis por um risco acrescido de desenvolvimento de periimplantite de cinco a seis vezes.

A evolução do conhecimento no âmbito desta disciplina tem permitido o desenvolvimento de vertentes muito diferentes, que variam entre a higiene e prevenção, a medicina periodontal, a cirurgia periodontal, a cirurgia mucogengival ou a metodologia de investigação.

Tendo em vista esta realidade, como perspetiva o futuro da periodontologia e de quem exerce esta prática?

Se por um lado a Medicina Dentária caminha para os seus profissionais obterem cada vez mais uma subespecialidade, como a ortodontia, cirurgia oral ou a odontopediatria e a periodontologia, por outro lado, devido ao facto de as doenças das gengivas afetarem uma grande parte da população, parece-me que, no futuro, todos os profissionais de saúde oral vão ter um papel muito ativo na prevenção e na aposta de evitar o aparecimento da doença periodontal na generalidade da população.

Espera grandes avanços nos próximos anos, que possam mudar a forma de tratar os pacientes?

O objetivo do tratamento das patologias periodontais passará sempre pela eliminação da infeção e evitar as reinfeções.

Cada vez mais o tratamento dos nossos pacientes vai ser determinado em recomendações descritas por grupos de trabalho da área científica (Guidelines) baseadas em evidências científicas rigorosas e centrado no paciente.

Quais são as prioridades que traçou para o mandado como presidente da SPPI?

Nos próximos anos, a SPPI terá a importante missão e o grande desafio de valorizar, aprofundar e desenvolver o conhecimento e o saber da periodontologia entre os seus associados e os médicos dentistas em geral, assim como a promoção da saúde periodontal entre a população geral.

Em 2024 será muito importante aumentarmos os números de sócios ativos da sociedade. A participação ativa de todos será certamente uma mais-valia para a SPPI e para a periodontogia portuguesa. Esta direção está disponível para acolher ideias dos seus associados. Além disto, a SPPI irá melhorar e apostar na comunicação e as informações aos seus associados.

Teremos ainda vários desafios pela frente, designadamente o importante Dia Europeu da Saúde Periodontal (que se assinala a 12 de maio) para campanhas de rua junto da população. Este ano vamos solicitar a colaboração de todos.

A SPPI irá publicar e enviar a todos os seus associados todas as Guidelines publicadas pela Federação Europeia de Periodontologia (EFP) para o tratamento das doenças periodontais e periimplantares, traduzidas para português.

Iremos ter uma participação e colaboração muito ativa dentro das ações e grupos de trabalho da Federação Europeia de Periodontologia. E talvez possa surgir uma candidatura para um evento em colaboração com esta entidade.

Que eventos estão programadas pela SPPI para 2024, designadamente a reunião científica anual?

Anualmente a SPPI realiza a sua reunião científica, de uma forma rotativa nas regiões Norte, Centro e Sul do país.

Este ano a reunião anual irá realizar-se na bonita cidade de Coimbra, no dia 11 de maio, em simultâneo com as comemorações do Dia Europeu da Saúde Periodontal, que se assinala a 12 de maio. A organização deste evento está a cargo da ilustre colega Isabel Poiares Baptista.

São cada vez mais (re)conhecidos os custos financeiros e em termos de bem-estar pessoal da periodontite, tendo em vista que está estreitamente relacionada com a aparição de doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais ou diabetes. Que trabalho está a ser desenvolvido pela SPPI no sentido de consciencializar a comunidade médica e os cidadãos em geral sobre a importância da saúde periodontal?

A SPPI está a restabelecer contacto e parcerias com sociedades científicas portuguesas na área da Medicina Dentária e com sociedades científicas médicas. Assim, iremos promover grupos de trabalho multidisciplinares das áreas de especialidades da Medicina Dentária e com diversas áreas de especialidades médicas.

Desta forma, irá haver intercâmbio e integração de palestrantes de outras sociedades nos eventos científicos da SPPI, bem como de periodontologistas nas iniciativas de formação de outras sociedades científicas para divulgação da sociedade, de conteúdos científicos e promoção de projetos de cooperação.

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